ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS
ALTERAÇÕES
CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS
As variações do número de cromossomos podem ser classificadas em
dois tipos básicos: aneuploidia, que é uma alteração no número de cromossomos,
um ou mais cromossomos são adicionados ou eliminados e poliploidia, uma
alteração do número de conjuntos de cromossomos.
A aneuploidia pode surgir de várias formas. Primeiro, um
cromossomo pode ser perdido durante a mitose ou meiose, se, por exemplo, seu
centrômero for eliminado. A perda do centrômero impede que as fibras do fuso se
prendam; então, o cromossomo não se move para o polo do fuso e não é
incorporado ao núcleo após a divisão celular. Segundo o pequeno cromossomo
gerado por uma translocação robertsoniana pode ser perdido na mitose ou meiose.
Terceiro, as aneuploidias podem surgir pela não disjunção, a falha dos
cromossomos homólogos ou cromátides-irmãs em se separar na meiose ou mitose. A
não disjunção faz com que alguns gametas ou células tenham um cromossomo extra
e outros gametas e células não tenham um cromossomo.
Tipos
de aneuploidia
Vamos
considerar quatro tipos de aneuploidias em indivíduos diploides: nulissomia,
monossomia, trissomia e tetrassomia.
A nulissomia
é a perda de ambos os membros de um par homólogo de cromossomos. É
representada como 2n − 2, em
que n se refere ao número haploide de cromossomos. Assim, nos seres
humanos, que normalmente têm 2n = 46 cromossomos, um zigoto nulissômico
tem 44 cromossomos.
A monossomia
é a perda de um único cromossomo, representada como 2n − 1. Um zigoto humano monossômico tem 45 cromossomos.
A trissomia
é o ganho de um único cromossomo, representada como 2 n + 1. Um
zigoto humano trissômico tem 47 cromossomos. O ganho de um cromossomo significa
que existem três cópias homólogas de um cromossomo. A maioria dos casos da
síndrome de Down, é o resultado da trissomia do cromossomo 21.
A tetrassomia
é o ganho de dois cromossomos homólogos, representada como 2n + 2.
Um zigoto humano tetrassômico tem 48 cromossomos. A tetrassomia não é o
ganho de dois cromossomos extras, mas, em vez do ganho de dois cromossomos homólogos,
teremos quatro cópias homólogas de um dado cromossomo.
Mais
de uma mutação aneuploide pode ocorrer no mesmo organismo. Um indivíduo que tem
uma cópia extra de dois cromossomos diferentes (não homólogos) é chamado de
trissômico duplo e é representado como 2n + 1 + 1. Da mesma forma, um
monossômico duplo tem dois cromossomos não homólogos a menos (2n − 1 − 1), e um tetrassômico duplo tem dois pares extras de cromossomos
homólogos (2n + 2 + 2).
Efeitos
da aneuploidia (variação?)
Um dos
primeiros aneuploides a ser identificado foi uma mosca-da-fruta com um único
cromossomo X e nenhum cromossomo Y, descoberta por Calvin Bridges em 1913. Em geral, a
aneuploidia altera o fenótipo de forma drástica. Na maioria dos animais e em
muitas plantas, as mutações aneuploides são letais. Como a aneuploidia afeta o
número de cópias de genes, mas não sua sequência de nucleotídios, é mais provável
que os efeitos da aneuploidia se devam à
dosagem genética anormal. Ela altera a dosagem para alguns, mas não todos,
genes, alterando as concentrações relativas dos produtos dos genes e
interferindo no desenvolvimento normal.
Uma exceção
importante para a relação entre o número de genes e a dosagem genética são os
genes no cromossomo X dos mamíferos. Nesses animais, a inativação do cromossomo
X garante que os machos (que têm um único cromossomo X) e as fêmeas (que têm
dois cromossomos X) recebam a mesma dosagem funcional para os genes ligados ao
X. Os cromossomos X adicionais são inativados nos mamíferos, então podemos
esperar que a aneuploidia dos cromossomos sexuais seja menos prejudicial nesses
animais. De fato, esse é o caso para camundongos e seres humanos, para os quais
os aneuploides dos cromossomos sexuais são a forma mais comum de aneuploidia observada
nos organismos vivos. É provável que os aneuploides do cromossomo Y sejam
comuns porque existe muito pouca informação nesse cromossomo.
Aneuploidia
nos seres humanos
Por
motivos desconhecidos, uma elevada porcentagem de todos os embriões humanos
concebidos tem anomalias cromossômicas. Os achados de estudos de mulheres que
tentavam engravidar sugerem que mais de 30% das concepções sofrem aborto
espontâneo, em geral no início do desenvolvimento, quando a mulher não tem
ideia de que esteja grávida. Defeitos cromossômicos são encontrados em pelo
menos 50% dos fetos humanos abortados de forma espontânea, e a aneuploidia é responsável
pela maioria dos casos. Esta taxa de anomalia cromossômica nos seres humanos é
maior que nos outros organismos estudados; nos camundongos, por exemplo, a
aneuploidia é encontrada em no máximo 2% dos óvulos fertilizados. A aneuploidia
nos seres humanos produz graves problemas de desenvolvimento que levam ao
aborto espontâneo. Apenas cerca de 2% dos fetos com um defeito cromossômico
sobrevivem ao nascimento.
Aneuploides
dos cromossomos sexuais. As aneuploidias mais comuns observadas nos
seres humanos vivos são as que envolvem os cromossomos sexuais. Como ocorre com
todos os mamíferos, a aneuploidia dos cromossomos sexuais humanos é mais bem
tolerada do que dos cromossomos autossômicos. As síndromes de Turner e
Klinefelter são resultados de aneuploidia dos cromossomos sexuais.
Aneuploides
autossômicos. Os aneuploides autossômicos que resultam em nascidos vivos são
menos comuns do que os aneuploides dos cromossomos sexuais nos seres humanos,
provavelmente porque não há mecanismo de compensação de dosagem para os
cromossomos autossômicos. A maioria dos aneuploides autossômicos é abortada de
forma espontânea, apesar de os aneuploides de alguns dos autossomos pequenos,
como o cromossomo 21, completarem o desenvolvimento e resultarem em uma pessoa
com aneuploidia. Como esses cromossomos são menores e carreiam menos genes, a
existência de cópias extras é menos prejudicial do que nos cromossomos maiores.
Síndrome
de Down. A síndrome de Down, também conhecida como trissomia do
21, é a aneuploidia autossômica mais comum nos seres humanos. A incidência
da síndrome de Down nos EUA é semelhante à observada no mundo – cerca de 1 em 700
nascimentos –, embora a incidência aumente entre as crianças de mães mais
velhas. Aproximadamente 92% das pessoas
com
síndrome de Down têm três cópias completas do cromossomo 21 (e, portanto, um
total de 47 cromossomos), uma condição chamada de síndrome de Down primária.
A síndrome de Down primária geralmente surge a partir da não disjunção espontânea na formação do óvulo: cerca de 75% dos
eventos de não disjunção que provocam a síndrome de Down são de origem materna,
a maioria surgindo na meiose I. A maior parte das crianças com síndrome de Down
são filhos de pais normais, e a falha dos cromossomos em se dividirem tem pouca
tendência hereditária. Cerca de 4% das pessoas com síndrome de Down não são
trissômicas para um cromossomo 21 completo. Em vez disso, eles têm 46
cromossomos, mas uma cópia extra da parte do cromossomo 21 é presa a outro
cromossomo por meio de uma translocação. Essa condição é chamada de síndrome
de Down familiar, porque tem uma tendência de surgir nas famílias. As características
fenotípicas da síndrome de Down familiar são as mesmas que as da síndrome de
Down primária. A síndrome de Down familiar surge nos descendentes cujos pais
são portadores de cromossomos que sofreram uma
translocação
robertsoniana, mais comumente entre o cromossomo 21 e o cromossomo 14; o braço
longo do 21 e o braço curto do 14 trocam de lugar. Essa troca produz um
cromossomo que inclui os braços longos dos cromossomos 14 e 21 e um cromossomo
muito pequeno com os braços curtos dos cromossomos 21 e 14. O pequeno
cromossomo é perdido após várias divisões celulares. Embora a troca entre os
cromossomos 21 e 14 seja a causa mais comum da síndrome de Down familiar, a
condição também pode ser causada por translocações entre o cromossomo 21 e
outros cromossomos, como o 15.
As pessoas com a
translocação, chamadas de portadores da translocação, não têm a síndrome
de Down. Embora eles apresentem apenas 45 cromossomos, seus fenótipos são
normais porque eles têm duas cópias dos braços longos dos cromossomos 14 e 21 e
aparentemente, os braços curtos desses cromossomos (que são perdidos) não
carreiam informações genéticas essenciais. Apesar de os portadores da
translocação serem completamente saudáveis, eles apresentam maior chance de ter
crianças com a síndrome de Down.
Outras
trissomias humanas. Poucos humanos aneuploides autossômicos além da trissomia do 21
conseguem sobreviver. A trissomia do 18, também conhecida como síndrome
de Edward, tem uma frequência de aproximadamente 1 em 8.000 nascidos vivos.
Os recém-nascidos com essa síndrome têm grave déficit intelectual, orelhas de
implantação baixa, pescoço curto, pés deformados, dedos das mãos cerrados,
problemas cardíacos e outras incapacidades. Poucos vivem por mais de 1 ano.
A trissomia do 13 tem
uma frequência de cerca de 1 em 15.000 nascidos vivos e produz características
que são coletivamente conhecidas com síndrome de Patau. As
características dessa condição incluem grave déficit intelectual, cabeça
pequena, testa inclinada, olhos pequenos, fenda labiopalatina, dedos extras nas
mãos e nos pés e vários outros problemas. Cerca de metade das
crianças
com trissomia do 13 morre no primeiro mês de vida, e 95% morrem até os 3 anos
de idade. A trissomia do 8 é ainda mais rara, e surge com uma frequência
que varia de 1 em 25.000 a 1 em 50.000 nascidos vivos. Esse aneuploide é
caracterizado por déficit intelectual, dedos das mãos e pés contraídos, orelhas
de implantação baixa e malformadas e testa proeminente. Muitos com essa
condição têm uma expectativa de vida normal.
Aneuploidia
e idade materna. A
maioria dos casos de síndrome de Down e outros tipos de aneuploidia nos seres
humanos surgem a partir de não disjunção materna, e a frequência de aneuploidia aumenta com a
idade materna. Não se sabe por que a idade materna está associada à não
disjunção. As fêmeas dos mamíferos nascem com os ovócitos primários suspensos
no subestágio diplóteno da prófase I da meiose. Pouco antes da ovulação, a
meiose termina e a primeira divisão é completa, produzindo um ovócito
secundário. Nesse ponto, a meiose é suspensa novamente e permanece assim até
que o ovócito secundário seja penetrado por um espermatozoide. A segunda
divisão meiótica ocorre imediatamente antes de os núcleos do óvulo e do
espermatozoide se unirem para formar um zigoto. Os ovócitos primários
permanecem suspensos no diplóteno por muitos anos antes de a ovulação ocorrer e
a meiose recomeçar. Os componentes do fuso e outras estruturas necessárias para
a separação cromossômica podem se romper na longa interrupção da meiose, gerando
mais aneuploidia nos filhos das mulheres mais velhas. De acordo com essa
teoria, não é observado o efeito da idade nos homens, porque os espermatozoides
são produzidos de forma contínua após a puberdade, sem suspensão prolongada das
divisões meióticas.
Aneuploidia
e câncer. Muitas células tumorais têm cromossomos extras ou ausentes, ou
ambos; alguns tipos de tumores estão associados a mutações cromossômicas
específicas, incluindo aneuploidia e rearranjos cromossômicos.
Dissomia
uniparental
Normalmente,
os cromossomos de um par homólogo são herdados de genitores diferentes – um do
pai e outro da mãe. O desenvolvimento de técnicas moleculares que facilitam a
identificação de sequências específicas de DNA tornou possível a determinação
da origem paterna/materna dos cromossomos. De modo surpreendente, algumas vezes
ambos os cromossomos são herdados do mesmo genitor, uma condição chamada de dissomia
uniparental.
Mosaicismo
A não
disjunção em uma divisão mitótica pode gerar regiões de células nas quais todas
as células têm uma anormalidade cromossômica, e outras regiões nas quais todas
as células têm um cariótipo normal. Esse tipo de não disjunção forma regiões do
tecido com diferentes composições cromossômicas, uma condição conhecida como mosaicismo.
Evidências crescentes sugerem que o mosaicismo é mais comum do que é
identificado. Por exemplo, cerca de 50% das pessoas diagnosticadas com síndrome
de Turner (indivíduos com um único cromossomo X) são, na verdade, mosaicos, com
alguns casos com células 45,X e alguns normais com células 46,XX. Alguns são
até mosaicos para dois ou mais tipos de cariótipos anormais. O mosaico
45,X/46,XX em geral surge quando um cromossomo X é perdido logo após a
fertilização em um embrião XX.
As
moscas-da-fruta que são mosaicos XX/XO (O indica a ausência de um cromossomo
homólogo; XO significa que a célula tem um único cromossomo X e nenhum
cromossomo Y) desenvolvem uma mistura de traços de machos e fêmeas, porque a existência
de dois cromossomos X nessas moscas produz traços de fêmeas e a de um único
cromossomo X produz traços de machos. Nas moscas-da-fruta, o sexo é determinado
independentemente em cada célula no curso do desenvolvimento. As células que
são XX expressam traços de fêmeas; as que são XO expressam traços de machos.
Esses mosaicos sexuais são chamados de ginandromorfos. Normalmente, os
genes recessivos ligados ao X são mascarados nas fêmeas heterozigotas, mas, nos
mosaicos XX/XO, qualquer gene recessivo ligado ao X nas células com um único
cromossomo X será expresso.
8.4
Poliploidia é a ocorrência de mais de dois conjuntos de cromossomos
Alguns
organismos (como as bananas) têm mais de dois conjuntos de cromossomos e são
poliploides. Os poliploides incluem triploides (3x), tetraploides (4x),
pentaploides (5x) e até números maiores de conjuntos de cromossomos.
A
poliploidia é comum nas plantas e é o principal mecanismo pelo qual surgem
novas espécies de plantas. Aproximadamente 40% de todas as espécies de plantas
com fluorescência e 70 a 80% da grama são poliploides. Elas incluem várias
plantas importantes para a agricultura, como trigo, aveia, algodão, batatas e
cana-de-açúcar. A poliploidia é menos comum nos animais, mas é encontrada em
alguns invertebrados, peixes, salamandras, sapos e lagartos. Embora não ocorram
naturalmente, os
poliploides
viáveis são conhecidos nas aves, mas foi relatado pelo menos um mamífero
poliploide – um rato na Argentina.
Vamos
considerar os dois principais tipos de poliploidia: autopoliploidia, na
qual todos os conjuntos de cromossomos são de uma única espécie, e alopoliploidia,
na qual os conjuntos de cromossomos são oriundos de duas ou mais espécies.
Autopoliploidia
A
autopoliploidia é provocada por acidentes da mitose ou meiose que produzem
conjuntos extras de cromossomos, todos derivados de uma única espécie. A não
disjunção de todos os cromossomos na mitose em um embrião 2x inicial,
por exemplo, dobra o número de cromossomos e produz um autotetraploide (4x).
Um autotriploide (3x) pode surgir quando a não disjunção na meiose
produz um gameta diploide que então se une a um gameta haploide normal para produzir
um zigoto triploide. Por outro lado, os triploides podem surgir a partir de um
cruzamento entre um autotetraploide que produz gametas 2n e um diploide
que produz gametas 1n. A não disjunção pode ser artificialmente induzida
pela colchicina, uma substância química que interrompe a formação do fuso. A
colchicina é, com frequência, usada para induzir poliploidia nas plantas
importantes para agricultura e decoração. Como todos os conjuntos de
cromossomos nos autopoliploides são da mesma espécie, eles são homólogos e
tentam se alinhar na prófase I da meiose, que em geral resulta em esterilidade.
Considere a meiose em um autotriploide. Na meiose em uma célula diploide, dois
cromossomos homólogos se pareiam e se alinham, mas, nos autotriploides, três
homólogos estão presentes. Um dos três homólogos pode não conseguir se alinhar
com os outros dois, e esse cromossomo não alinhado se separa aleatoriamente. O
gameta que conseguirá o cromossomo extra será determinado por acaso e será
diferente para cada grupo homólogo de cromossomos. Os gametas resultantes terão
duas cópias de alguns cromossomos e uma cópia de outros. Mesmo se todos os três
cromossomos se alinharem, dois cromossomos têm de se separar para um gameta e
um cromossomo para o outro. Às vezes, a existência de um terceiro cromossomo
interfere no alinhamento normal, e todos os três se deslocam para o mesmo
gameta. Não importa como os três cromossomos homólogos se alinham, sua
separação aleatória criará gametas não balanceados, com vários números
de cromossomos. Um gameta produzido por meiose nesse autotriploide pode
receber, por assim dizer, duas cópias do cromossomo 1, uma cópia do cromossomo
2, três cópias do cromossomo 3 e nenhuma cópia do cromossomo 4. Quando o gameta
não balanceado se une a um gameta normal (ou com outro gameta não equilibrado)
o zigoto resultante tem números diferentes dos quatro tipos de cromossomos.
Essa diferença no número cria uma dosagem gênica não balanceada no zigoto, que
é fatal. Por esse motivo, os triploides não produzem descendentes viáveis.
Nos
autopoliploides de número par, como os autotetraploides, os cromossomos
homólogos podem teoricamente formar pares e se dividir igualmente. Entretanto,
é raro esse evento acontecer, então esses tipos de autotetraploides também
produzem gametas não balanceados.
A
esterilidade que, em geral, acompanha a autopoliploidia é explorada na
agricultura. Como foi discutido na introdução deste capítulo, as bananas
triploides (3n = 33) são estéreis e sem semente. Da mesma forma, foram
criadas melancias triploides sem sementes, que são amplamente vendidas.
Alopoliploidia
A
alopoliploidia surge a partir da hibridização entre duas espécies; o poliploide
resultante carreia conjuntos de cromossomos derivados de duas ou mais
espécies. a alopoliploidia pode surgir a
partir de duas espécies que são próximas o suficiente para que ocorra
hibridização entre elas. A espécie 1 (AABBCC, 2n = 6) produz gametas
haploides com os cromossomos ABC, e a espécie 2 (GGHHII, 2n = 6) produz
gametas com os cromossomos GHI. Se os gametas das espécies 1 e 2 se unem, é
criado um híbrido com seis cromossomos (ABCGHI). O híbrido tem o mesmo número
de cromossomos que ambas as espécies diploides, então é considerado um
diploide. Entretanto, como os cromossomos híbridos não são homólogos, eles não pareiam
e se separam corretamente na meiose; esse híbrido é haploide e estéril do ponto
de vista funcional. O
híbrido estéril não produz gametas viáveis por meiose, mas pode ser capaz de se
perpetuar por mitose (reprodução assexuada). Em raras ocasiões, a não disjunção
ocorre em uma divisão mitótica, que leva a dobrar o número de cromossomos e a
um alotetraploide com cromossomos AABBCCGGHHII. Esse tipo de alopoliploide, com
dois genomas diploides combinados, é às vezes chamado de anfidiploide.
Embora o número de cromossomos tenha dobrado em comparação com o existente em
cada uma das
espécies genitoras, o anfidiploide é funcionalmente diploide: cada cromossomo
tem um, e apenas um, parceiro homólogo, que é exatamente o que a meiose requer
para a separação adequada. O anfidiploide agora pode sofrer meiose normal para
produzir gametas balanceados com seis cromossomos.
George Karpechenko
criou poliploides experimentalmente nos anos 1920. O repolho (Brassica
oleracea, 2n = 18) e o rabanete (Raphanus sativa, 2n =
18) são plantas importantes para a agricultura, mas apenas as folhas do repolho
e as raízes do rabanete são consumidas. Karpechenko queria produzir uma planta
que tivesse as folhas do repolho e as raízes do rabanete, assim nenhuma parte
da planta seria desperdiçada. Como o repolho e o rabanete têm 18 cromossomos,
Karpechenko conseguiu
cruzá-los com
sucesso, produzindo um híbrido com 2n = 18, mas, infelizmente, o híbrido
era estéril. Após vários cruzamentos, Karpechenko observou que uma de suas
plantas produziu algumas sementes. Quando plantadas, elas cresceram em plantas viáveis
e férteis. A análise dos seus cromossomos revelou que as plantas eram
alotetraploides, com 2n = 36 cromossomos. Para decepção de Karpechenko,
entretanto, as novas plantas tinham as raízes do repolho e as folhas do
rabanete.
Importância
da poliploidia
Em
muitos organismos, o volume celular está relacionado com o volume do núcleo,
que, por sua vez, é determinado pelo tamanho do genoma. Assim, o aumento no
número de cromossomos na poliploidia está associado a aumento do tamanho da célula,
e muitos poliploides são maiores que os diploides. Os produtores usaram esse
efeito para produzir plantas com folhas, flores, frutas e sementes maiores. É
provável que o genoma do hexaploide (6n = 42) do trigo tenha cromossomos
derivados de três espécies selvagens diferentes. Assim, as sementes do trigo
moderno são maiores que as sementes de seus ancestrais. Muitas outras plantas
cultivadas também são poliploides. A poliploidia é menos comum em animais do
que em plantas por vários motivos. Como já foi discutido, os alopoliploides exigem
a hibridização entre diferentes espécies, o que é menos frequente em animais do
que em plantas. O comportamento animal evita o intercruzamento entre espécies,
e a complexidade do desenvolvimento animal torna inviáveis híbridos mais interespecíficos.
Muitos dos animais poliploides que surgiram estão em grupos que se reproduzem
pela partenogênese (um tipo
de
reprodução na qual o animal se desenvolve a partir de um óvulo não
fertilizado). Assim, a reprodução assexuada facilita o desenvolvimento de
poliploides, talvez porque a perpetuação de híbridos por reprodução assexuada
forneça maiores oportunidades para a não disjunção do que a reprodução sexuada.
Foram relatados apenas alguns recém-nascidos humanos poliploides, e a maioria
morreu com alguns dias de vida. Poliploidia – em geral triploidia – é observada
em cerca de 10% dos
fetos
humanos abortados espontaneamente.
Importância
da poliploidia na evolução. A poliploidia, em especial a
alopoliploidia, dá origem a novas espécies e é particularmente importante na
evolução das plantas florescentes. A duplicação genômica por poliploidia é o
principal contribuinte para o sucesso da evolução nos vários grupos. Por
exemplo, Saccharomyces cerevisiae (levedura) é um tetraploide que sofreu
duplicação do genoma inteiro há cerca de 100 milhões de anos. O genoma dos
vertebrados duplicou duas vezes, uma no ancestral comum dos vertebrados com
mandíbulas e novamente no ancestral dos peixes. Alguns grupos de vertebrados, como
determinados sapos e peixes, sofreram poliploidia adicional. Os cereais
sofreram vários eventos de duplicação do genoma.
CONTRIBUIÇÃO PARA VARIAÇÃO E/OU VARIABILIDADE
GENÉTICA:
A maioria das
espécies apresenta um número característico de cromossomos, cada uma com
tamanho e estrutura diferente, e todos os tecidos de um organismo (exceto os
gametas) em geral têm o mesmo conjunto de cromossomos. Contudo, as variações no
número de cromossomos – como os conjuntos extras de cromossomos observados nas
bananas – surgem periodicamente. Também podem surgir variações na estrutura do
cromossomo: os individuais podem perder ou ganhar partes, e a ordem dos genes
em um cromossomo pode ser alterada. Essas variações no número e na estrutura
dos cromossomos são chamadas mutações cromossômicas e exercem um papel
importante na agricultura e na evolução da fruta.
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